“O Diagnóstico Pareceu um Veredito, Mas um Milagre nos Aguardava na Lavra”


    
Texto por Svetlana Gadjinskaya
    Alexei, um jovem talentoso, professor e doutorando do Instituto Estadual de Relações Internacionais de Moscou, estava concluindo sua tese sobre teoria econômica quando de repente percebeu que não podia mais ler. Muito embora ele tenha tido problemas de visão desde a escola, os médicos agora detectavam atrofia progressiva do nervo óptico em ambos os olhos - seus grandes olhos verdes amendoados com cílios muito claros e fofos. Os nervos ópticos ficaram inflamados no cruzamento, bem fundo no cérebro, naquela área onde as intervenções neurocirúrgicas só são possíveis em casos extremos, porque após esse tipo de cirurgia os pacientes precisam aprender a falar e fazer outras coisas básicas do zero.

    Assim, meu marido ficou cego. Embora naquele outono ele ainda fosse meu namorado. Meio ano antes desses eventos, ele deixou escapar que estávamos em um relacionamento sério que provavelmente levaria ao casamento. Em essência, aquilo havia sido sua proposta de casamento. Mas naquela época eu ainda não tinha certeza se éramos feitos um para o outro, então continuei pedindo a Deus que nos revelasse Sua vontade e nos mostrasse a decisão certa de uma maneira muito óbvia.

    Naquela época, eu estava aprimorando minhas habilidades jornalísticas e de direção: eu dava caronas para famílias com crianças pequenas que eu conhecia para suas dachas [N.T.: típica casa de campo Russa, normalmente utilizada como uma casa de verão], entregava roupas e alimentos aos necessitados na cidade e às vezes levava sacerdotes até as casas de pessoas moribundas. Meu trabalho me permitiu combinar tarefas necessárias e inevitáveis ​​com outras importantes e úteis. Aconteceu que eu mesma assumi a responsabilidade de transportar Alexei de um hospital ao outro. Logo, até mesmo sua família e amigos começaram a me perguntar sobre a saúde e as necessidades de Alexei. Então acabei no papel de sua noiva de facto.

    Felizmente, o diagnóstico de esclerose múltipla não foi confirmado - os outros diagnósticos possíveis pareciam muito menos assustadores. No entanto, os prognósticos dos médicos eram desanimadores: nenhum deles dizia que sua visão voltaria um dia e a capacidade de distinguir luz e sombra parecia "uma grande conquista". Enquanto isso, à noite, Alexei sonhava em ler, porque desde os quatro anos ele sempre teve um livro nas mãos. Fomos confrontados com uma doença que nem mesmo podia ser tratada no estrangeiro. Um centro médico internacional recomendou que Alexei fosse a uma clínica neurológica regularmente por três anos para a estimulação de seu sistema nervoso - hormônios, terapia intravenosa, injeções nos olhos, colírios, sanguessugas e outros procedimentos desagradáveis.

    Num certo momento, me dei conta de que sabia uma solução. Entendi que o Senhor já havia respondido minha oração e eu simplesmente não podia deixar a pessoa que havia perdido a visão e que segurava minha mão com força. Não foi pena, nem sacrifício, nem paixão - na verdade, é difícil para mim descrever o que estava acontecendo dentro de mim. Eu só me lembro daquele forte sentimento de que eu simplesmente não poderia fazer de outra forma...

Foto de Sergei Vlasov. Patriarchia.ru

    Certa vez, quando estávamos esperando nosso primeiro bebê, nosso amigo Vladimir Strelov nos contou sobre o Hierodiácono Moisés da Lavra da Trindade-Sérgio, que era oftalmologista de profissão, Ph.D em Medicina, que recebia pacientes no departamento médico da Lavra [N.T.: Agora, ele é o Hieromonge Moisés (Drozdov), que desde 2014 dirige o Centro Monástico de Medicina Herbal na Lavra]. Tomando seu histórico de caso, Alexei e Vladimir viajaram juntos para a Lavra para consultar este Monge-Médico e orar a São Sérgio. Alexei voltou para casa inspirado, embora já tivéssemos aprendido a conviver com a cegueira naquela época, escrevendo artigos juntos e lendo juntos em voz alta.

    Era o início da Quaresma e Alexei decidiu seguir o conselho do Pe. Moisés e receber a Comunhão semanalmente. Também me recordo de termos ido à Catedral da Teofania em Elokhovo, até as relíquias de seu santo Patrono: o Santo Hierarca Alexei de Moscou (amigo de São Sérgio de Radonej). Em uma farmácia, compramos algumas tinturas e fizemos infusões de raiz de capim-limão segundo o conselho do Pe. Moisés.

    Em maio, depois da Páscoa, seu estado começou a melhorar. Alexei estava com medo de acreditar, mas em setembro até mesmo oftalmologistas de uma clínica ambulatorial confirmaram o fato. Primeiro eles pensaram que Alexei tinha enlouquecido e que aprendera de cor o gráfico do teste de visão. Afinal, ele não deveria ser capaz de ver nada: as células nervosas estavam mortas e não podiam transmitir sinais para o cérebro. Todavia, ele estava a ver de alguma forma! Com acuidade visual de cinquenta por cento, não cinco por cento!

    Entendi que deveria ir até a Lavra com nossa filha recém-nascida para agradecer o milagre, apesar da longa jornada. Acima de tudo, eu precisava agradecer ao Pe. Moisés. Entretanto, como fazer isso apropriadamente? A busca pela resposta para esta questão não foi fácil.

    Na realidade, é bastante assustador quando um milagre ocorre. Como se, ao caminhar pela estrada, reclamando e com pena de si mesmo como sempre, tu erguesses os olhos e visses Deus diante de ti. Os olhos amorosos, o calor de Sua presença e as feridas em Seu corpo... Agora não é possível fingir que tudo foi apenas um sonho, uma fantasia ou invenção. É difícil descrever a realidade que se desenvolve a partir da fé, que é o milagre mais importante. Mesmo os santos não puderam explicar isso bem. Como forasteiros, ficamos maravilhados - como um milagreiro pode ficar cheio de remorso se ele é um santo que não tem pecados e é ouvido por Deus? Todavia, sua vida após a intervenção Divina, quando o amor Divino percorre seus ossos, assume uma nova dimensão: a eternidade. Daí este medo: Tu vês que nesta dimensão nada poderá continuar da mesma maneira...

    Antes de partirmos para a Lavra, tínhamos considerado várias possibilidades emocionalmente e estávamos até prontos para vender ou doar nossos bens - se ao menos eles nos contassem na Lavra como poderíamos retribuir sua bondade após o milagre extraordinário que havíamos experimentado! Entretanto, a breve resposta do Pe. Moisés nos surpreendeu. Ele disse: “Por favor, vinde sempre que puder. Guardai os mandamentos. É tão bom aqui na Lavra; São Sérgio sempre resolve tudo aqui, então eu não tenho nada a ver com isso. Agradecei-o. Como nós vivemos aqui, apenas observamos seus milagres”. Ele também compartilhou conosco algumas outras histórias milagrosas, que não eram menos maravilhosas.

    Corremos para compartilhar a história da cura milagrosa de Alexei com todos os nossos amigos, tanto crentes quanto aqueles de fé fraca. Lembro-me da mensagem que enviamos e da alegria que recebemos em resposta. Nos meses anteriores, ninguém ficou indiferente: as pessoas simpatizaram conosco e nos ofereceram ajuda. Nossos amigos religiosos fizeram fila, ansiosos para ir até a Lavra conosco e encontrar o Pe. Moisés. Amigos não religiosos, embora explicassem tudo pela pouca idade de Alexei e o efeito da raiz de capim-limão, chamaram o Pe. Moisés um especialista sábio, amaldiçoando o sistema nacional de saúde. Quanto a nós, nos sentimos como se estivéssemos dentro do Evangelho e descobrimos que o mais doloroso era quando as pessoas que vêem não vêem (São Mateus 13:13).

    Dezessete anos se passaram desde então. Agora temos quatro filhos. Nossa filha mais velha em breve concluirá a escola, e nós batizamos nosso filho mais novo como Sérgio, em honra a São Sérgio. Trabalhamos, estudamos, viajamos e temos amigos, como qualquer outra pessoa. Nosso amor e fé são frequentemente testados; mas quando olhamos para trás em nossa vida, ficamos maravilhados com a misericórdia e paciência do Senhor. Damos graças a Ele não apenas pelo milagre da visão restaurada, mas também pela Lavra e por São Sérgio (ambos desde então se tornaram tão próximos de nós), pelo monge com quem nos tornamos amigos e por nossa família.

Visto originalmente em: https://foma.ru/diagnoz-zvuchal-kak-prigovor-no-v-obiteli-prepodobnogo-sergija-nas-zhdalo-chudo-nepridumannaja-istorija.html (Russo)